Exposição Permanente no Centro de Arte Alberto Carneiro, em Santo Tirso

O Centro de Arte Alberto Carneiro tem em exibição parte da sua coleção composta por dez esculturas e cinquenta desenhos, entre eles encontram-se alguns dos últimos desenhos do escultor.
Através desta coleção, produzida entre 1965 e 2015, podemos aceder ao universo artístico e filosófico do autor numa estreita relação entre a perceção da natureza e a experiência do corpo diante da sua transformação em arte, uma segunda natureza, que segundo Carneiro, as obras corporeificam.
Esta exposição constitui um lugar privilegiado para o pensamento, a experimentação e a conexão com a natureza – cuja fusão vegetal e mineral dá origem a uma conceção de arte que opera os seus próprios ritos de passagem entre uma primeira e uma segunda natureza. Esses ritos serão amparados por ações estéticas que se transformam em arte e fruição estética, ampliando o envolvimento e uma perceção cósmica a que Alberto Carneiro deu voz.

É desta relação que nascerá a noção de corpo subtil em harmonia com as coisas simples e em sintonia com a compreensão da natureza na sua existência elementar. Daí oriunda a importância crucial dos quatro elementos da natureza para a obra de Carneiro.
Ao se remeter a esta harmoniosa simplicidade é possível aceder ao fluxo que emana através da arte, aquela que depois de uma árvore secar faz encontrar outros corpos através dos quais flui para novas vidas.
Perguntaremos de que corpo e de que natureza se trata? Do corpo do artista, do visitante da exposição? Certamente ambos se interligam através de um terceiro corpo que é o corpo da obra, sejam esses corpos esculpidos ou desenhados.
E o que os interliga? Aquilo que Alberto Carneiro chamou de “simbiose estética”, um conceito explorado pela emancipação da diferença. É o elemento diferencial e novo o que se une no processo simbiótico. A simbiose é um terceiro elemento dado, ainda não pensado, ainda não objetivado, nascido, incriado. Trata-se de uma poética do corpo na dimensão matérica do espaço. É assim que se compreenderá a arte ecológica de Alberto Carneiro, em seu sentido ético transposto numa sensibilidade embebida pela natureza.
A arte enquanto segunda natureza considera os fenómenos numa perceção consciente e sensível que é consonante com os ventos, as marés, os ciclos da água, as florestas, a vida e a morte da natureza e, sobretudo, a sua permanente transformação. Alberto Carneiro não cortava árvores para trabalhar as obras, muito pelo contrário: a sua motivação artística partia das árvores secas, numa tentativa de fazer durar a sua seiva vivente pelo trabalho escultórico.
A simbiose estética exprime-se por uma diferença através de vivências operadas enquanto agentes sensíveis e percetíveis. Isso significa que a experiência estética será a marca de uma diferença transformadora no sentido de uma fusão com a natureza.
As obras escultóricas aqui expostas, compostas por troncos de árvores, vidro, ferro e bronze, estão diretamente conectadas com aquelas outras compostas por canas de milho, feno, vimes e ráfia, elementos provenientes da experiência rural portuguesa na origem da qual encontraremos também a obra de Alberto Carneiro.
Foi na sua proximidade com a terra que o artista percebeu o lugar de onde nunca saiu, embora tivesse de sair dele para o saber: o jardim da casa materna. Esse jardim foi o atelier da sua infância e o seu último fulgor criativo.





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